Obra premiada no II Concurso Nacional de Poesia sobre o Vinho, promovido pela Prefeitura de Bento Gonçalves, Fundação Casa das Artes – Biblioteca Pública Castro Alves, XVI Congresso Brasileiro de Poesia e Fenavinho Brasil 2009.
Uva que te quero vinho
Poema I – A Colheita
A mão bruta acaricia
o fruto.
Num gesto firme,
mas pleno do mais terno carinho,
colhe.
Os frutos inundam a mão
bruta
assim como os mais puros desejos inundam
o corpo…
o mais doce desejo inunda
a fruta.
A mão conduz suave,
no terno afago da concha,
o fruto em cacho
como uma oferenda aos deuses mais felizes.
O mistério se anuncia.
A transmutação do fruto
em vida,
da uva em vinho
faz o milagre da colheita.
Poema II – A Transformação
Extrair
da pureza do fruto
a síntese sensual
que nos transborda a alma
de fúria e de calma
Deixar que o fruto
em eterno processo
renasça mais nobre.
Descobrir
no silêncio da terra
(secreto tesouro)
a sabedoria do desejo
há séculos guardada,
em fruto tornada.
Deixar que o fruto
em eterno processo
renasça mais nobre
tornando-se eterno…
tornando-se vinho.
A fonte da juventude
em nosso próprio quintal
jorrando vinho, não água;
a pedra filosofal
nos permitindo tornar
(alquimia sem igual)
a uva no melhor vinho,
nos fazendo Dioniso
- mais deus e menos mortal.
Poema III – A Degustação
A paixão renovada
na rolha violada
Erótico ritual
na carícia do copo
(o encontro sensual
como de dois corpos)
O prazer renascido
no gole ingerido
O erótico rito
de amantes antigos
(o encontro sensual
de dois bons amigos)
A emoção desejada
na rolha violada
O erótico ritual
no afago dos lábios
(o encontro sensual
como de dois sábios)
O gozo perseguido
no gole ingerido
O erótico rito
de flagrar o aroma
(o encontro sensual
dos deuses de Roma)
Na suave transparência
de um copo de vinho
o segredo da essência
do mais erótico carinho.
(c) Romildo Gouveia Pinto