19 de mai. de 2009


Obra premiada no II Concurso Nacional de Poesia sobre o Vinho, promovido pela Prefeitura de Bento Gonçalves, Fundação Casa das Artes – Biblioteca Pública Castro Alves, XVI Congresso Brasileiro de Poesia e Fenavinho Brasil 2009.
Uva que te quero vinho


Poema I – A Colheita


A mão bruta acaricia
o fruto.
Num gesto firme,
mas pleno do mais terno carinho,
colhe.
Os frutos inundam a mão
bruta
assim como os mais puros desejos inundam
o corpo…
o mais doce desejo inunda
a fruta.


A mão conduz suave,
no terno afago da concha,
o fruto em cacho
como uma oferenda aos deuses mais felizes.


O mistério se anuncia.


A transmutação do fruto
em vida,
da uva em vinho
faz o milagre da colheita.



Poema II – A Transformação


Extrair
da pureza do fruto
a síntese sensual
que nos transborda a alma
de fúria e de calma
Deixar que o fruto
em eterno processo
renasça mais nobre.


Descobrir
no silêncio da terra
(secreto tesouro)
a sabedoria do desejo
há séculos guardada,
em fruto tornada.


Deixar que o fruto
em eterno processo
renasça mais nobre
tornando-se eterno…
tornando-se vinho.


A fonte da juventude
em nosso próprio quintal
jorrando vinho, não água;
a pedra filosofal
nos permitindo tornar
(alquimia sem igual)
a uva no melhor vinho,
nos fazendo Dioniso
- mais deus e menos mortal.


Poema III – A Degustação


A paixão renovada
na rolha violada
Erótico ritual
na carícia do copo
(o encontro sensual
como de dois corpos)


O prazer renascido
no gole ingerido
O erótico rito
de amantes antigos
(o encontro sensual
de dois bons amigos)


A emoção desejada
na rolha violada
O erótico ritual
no afago dos lábios
(o encontro sensual
como de dois sábios)


O gozo perseguido
no gole ingerido
O erótico rito
de flagrar o aroma
(o encontro sensual
dos deuses de Roma)


Na suave transparência
de um copo de vinho
o segredo da essência
do mais erótico carinho.

(c) Romildo Gouveia Pinto