24 de fev. de 2011

Relação Aberta


Nos fóruns, a imensa maioria das usuárias grita que não, de jeito nenhum, de forma alguma teria um relacionamento aberto. Mas, procurando bem, encontramos algumas pessoas que dizem o contrário: têm relações abertas há muitos anos e defendem a liberdade como uma bela opção para ser feliz no amor.

Entre as que nunca passaram pela experiência, há as que consideram uma possibilidade. "Prefiro relacionamento aberto à hipocrisia", diz ela, para quem não adianta ter um relacionamento "fechado" no qual se pressupõe fidelidade, se há enganação. "A
traição, pelo jeito, é muito comum - basta ver a quantidade de posts que falam sobre o assunto, pondera ela, que já foi traída uma vez. "Preferia que, em vez de quebrar o pacto que tínhamos, ele tivesse proposto a troca de pacto: por um relacionamento aberto, o que garantiria que, no lugar de ser traída eu pudesse ter condições iguais e nas mesmas medidas", ressalta.

Amor X Sexo

Mas será possível conter o ciúme sabendo que o seu amor divide a cama com outras mulheres?

Acordos: "Não é com todos que aparecem que saímos. Não nos sentimos livres, leves e soltos. Mas às vezes aparece alguém significativo que vale a pena ‘namorar' por uma noite".

"Cada noite separados nos deixa mais juntos no dia posterior. Temos certeza de que nascemos um para o outro, o que é testado na prática"

Deu para perceber que
casamento aberto não é bagunça: cada casal tem suas regras, que mudam muito de uma relação para outra. "Somos amantes, amigos e o tesão nunca morreu"

"Já vivemos algum tempo longe e hoje nos vemos semanalmente. Viajamos juntos esporadicamente, é perfeito e sou feliz"

"Guardamos o sabor um do outro e torcemos pelas realizações individuais de cada um. Não vivemos o cotidiano, mas momentos tão intensos que suprem todo o resto, com bons papos e afinidades"

Respeito aos desejos alheios

Ela tem namorado, mas, para ela, é cada um na sua. "Se ele quiser sair com outras, não vejo problema e ele também não vê problema em eu sair com outros caras", revela, dizendo que
o amor é livre e não prende ninguém. "O amor verdadeiro deixa a pessoa procurar seus próprios caminhos, sabe respeitar a felicidade do outro. Eu amo meu namorado e sei que ele me ama, mas somos pessoas livres para fazermos o que quisermos", conta, diferenciando amor de sexo. "Amar não quer dizer prender e desejo sexual não quer dizer amor. Se eu ou ele desejamos sexualmente outras pessoas, isso não quer dizer que vamos nos amar menos por isso".

Segundo o sexólogo Helio Felippe, o único relacionamento aberto historicamente conhecido foi o de
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. "Eles eram ligados muito mais pelas questões intelectuais do que propriamente por amor. Não vejo este comportamento ganhar espaço em lugar algum, nem nos consultórios, mídia, novelas. O que mais se vê hoje em dia é a traição", afirma.

Antinatural

Para Hélio, se há amor, não há outra opção além do relacionamento a dois. "A natureza humana fez com que um necessite do outro para a sobrevivência da própria espécie. Carregar um filho na barriga durante meses e criá-lo até que tenha autonomia é muito difícil. É preciso ter um companheiro, é necessário ter alguém que faça a representatividade masculina ou feminina para as identificações", defende o sexólogo, que ressalta: a busca incansável pelo outro é uma necessidade psíquica causada pela falta de amor. "Uma pessoa fica com todos, mas não ama nenhum.
É um grande vazio. O amor próprio é o ponto de partida para se gostar de alguém. Só assim a pessoa vai ver que não precisa de tantos, apenas um", afirma.

Por outro lado, o sexólogo lembra que ninguém está livre de, mesmo comprometido, se interessar por outro alguém. "Qualquer pessoa, mesmo amando, pode sentir atração por um
objeto de desejo. Nesse caso, fantasiar uma relação não chega a ser uma traição". Ele alerta ainda que o relacionamento aberto pode ser uma grande armadilha. "O que parece ser uma saída, acaba sendo uma entrada. A pessoa pode acabar se apaixonando de verdade e aí... Adeus, relacionamento aberto", conclui.

Os mitos e verdades das relações abertas

O que é uma relação aberta?
João Pedrosa, 52, psicólogo e analista do comportamento; Adriana Nunan, 34, psicóloga e terapeuta cognitiva; Marco Garcia, 27, bibliotecário; Paulo Snake, 55 , empresário; Marcos Costa, 35, professor; e Antonio Araújo, 30, fisioterapeuta, foram confrontados com a pergunta.

Resumo da ópera: relações fechadas são aquelas nos quais os parceiros se relacionam de forma exclusiva, afetiva e/ou sexualmente. Já as abertas permitem a entrada de outros. Geralmente, essa “entrada” ocorre na forma sexual e sem envolvimento emocional, que costuma ser vetado – mas há relações abertas que o permitem, ou aquelas que, no outro extremo, vetam o sexo e liberam apenas determinados tipos de carícias (veja quadro das tipologias). De cara, já dá para matar a primeira afirmação sobre as relações abertas, não?

Toda relação aberta envolve sexo.
MITO. “As relações abertas permitem a entrada de outras pessoas [...] sexualmente e/ou afetivamente, dependendo das regras estabelecidas entre o casal”, diz Adriana Nunan. Marcos e Paulo, que vivenciaram as suas, incluem outras carícias: “Não vejo diferença entre você só fazer sexo oral com uma pessoa ou anal”, disse Marcos. Para Paulo, “ambos têm a liberdade de se envolverem, em diversos níveis, conforme o acordo de cada par; se pode beijar na boca ou não, se pode sair sozinho com o terceiro, se pode trepar sozinho sem o outro…”.

Relações abertas duram menos.
DEPENDE. “Muito relativo”, diz João Pedrosa. “Parece que a fechada tende a durar mais, pois existe uma maior segurança no relacionamento, faz-se mais planos”. Já para Adriana Nunan, “as relações duram mais ou menos de acordo com a felicidade dos membros do casal, e isso independe de ser aberta ou fechada”.

Relações abertas surgem depois de anos de relação fechada.
MITO. Com a palavra, o bibliotecário Marco Garcia, que vive atualmente uma relação aberta: “Foi uma condição para namorarmos. O Arnaldo só aceitou começar o namoro se fosse uma relação aberta”.

Numa relação aberta, a probabilidade de encontrar “um outro alguém” é maior.
DEPENDE. Para Pedrosa, sim: “a pessoa terá uma quantidade maior de parceiros e uma possibilidade maior de encontrar alguém que o reforce mais”. Adriana Nunan, Antonio Araújo – que nunca viveu uma, mas quis – e Paulo Snake, que até já namorou a três, discordam: “Quando a coisa não anda boa, essa procura vai acontecer, com relação aberta ou fechada”, diz o empresário.

Há mais ciúme numa relação aberta.
MITO. Não é verdade. “O ciúme tem muito mais a ver com o indivíduo do que com a relação”, diz Adriana. Pedrosa concorda: “Se o indivíduo tem uma história de reforço em ser ciumento, [...] tanto na relação aberta como na fechada, ele será ciumento”. Já para Paulo Snake, na relação aberta, existe menos ciúme.

Toda relação aberta tem regras.
VERDADE. “A característica mais marcante das práticas culturais são as regras. Elas existem independente da nossa vontade e, se ainda não existem, as criamos”, diz Pedrosa. Para Garcia, as regras são fundamentais, “para respeitar os limites do outro e evitar mágoas e desgastes”.

Casais em relação aberta sofrem preconceito.
VERDADE. “Pessoas com relações abertas são vistas como promíscuas, pouco comprometidas, que não sabem o que querem etc.”, diz Adriana. “Os amigos mais conservadores podem se afastar”, alerta João Pedrosa.

* com exceção de João Pedrosa e Adriana Nunan, todos os nomes foram trocados para preservar identidades.

Tipologia das relações abertas
.: Egoísta: apenas um dos parceiros pode sair com outros;
.: Pirulito: não pode transar, mas pode carícia, beijo e até sadomasoquismo; algumas incluem sexo oral;
.: Recheio: transamos sempre juntos, a três;
.: Banquete de casamento: fazemos a três, mas participamos de suruba com mais gente;
.: 7 de setembro: transas independentes, sempre separados; algumas incluem contar para o parceiro; outras não.
.: Tribalista: “eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”. No sexo, pode tudo, junto ou separado.
.: Poliamor: libera o envolvimento emocional. Pode haver evolução para namoro a três ou mais pessoas.

Existem ainda “subtipos”, como relações que vetam práticas específicas. Um dos casais sondados permitia que um dos membros transasse com outros – desde que não fizesse passivo!

Fontes: Bolsa de mulher