...Poderias, porventura, me recriminar
pela profundidade da ternura
que palpita em ondas de saudade insistente?...
...E, acaso, deverias me acusar
pela plenitude da entrega, inteira,
por ofertar a ti meu coração, sem reservas?...
...Poderias, será, me censurar
pela completa e integral confiança
depositada em ti, alma amada, alada e aflita?...
...Poderia eu te repreender, amor,
por teres te atrevido a voar mais longe
mais livre e desejante de aventuras?...
...Deveria eu te criticar, meu bem,
pela intensidade móvel e complexa
dos coloridos entrelaçamentos de amores?...
...Poderia eu reclamar, minha doçura,
de tuas asperezas e ausências, apenas
porque prefiro doçura e aconchego constantes?...
...Deveríamos nós desistir, acaso,
de acreditar ou de insistir no possível
dos afetos, dos sonhos, das asas
e nos arrepender do vôo encantado?...
...Ou, simplesmente, vibrar e celebrar
as lembranças mais doces, memórias
dos olhares cintilantes e assombros
do prazer de habitar, por um tempo
mundos e jardins azuis compartilhados?..
[Ana Luisa Kaminski]